Gabz relembra dificuldades financeiras da família antes de viver Viola em 'Mania de você': 'Memórias muito fortes' (2024)

Gabrielly Martins Nunes. Talvez você nunca tenha escutado esse nome, mas certamente tem ouvido falar muito de Gabz, a alcunha da carioca conhecida no meio do hip hop, que tem chamado atenção como a protagonista de “Mania de você”. O nome artístico é pequeno, mas carrega nele uma vida de grandes dificuldades e aprendizados. A intérprete da chef de cozinha Viola batalhou muito para chegar à TV. Nascida em Irajá, Zona Norte do Rio, ela foi apoiada para seguir a vida artística desde pequena, tendo aulas de canto e de balé no Teatro Municipal. Mas foi na adolescência que Gabrielly descobriu seu lugar no mundo, nas batalhas de slam (competições de poesia urbana). Daí não parou mais.

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Apesar de só agora ter atingido o grande público numa trama do horário nobre da Globo, Gabz, de 25 anos, fez vários trabalhos na telinha, incluindo uma Helena de Manoel Carlos, quando interpretou a personagem de Tais Araújo na infância em “Viver a vida”, reexibida pelo Canal Viva.

Já no folhetim atual, a atriz aborda diversos conflitos comuns a mulheres reais, como a relação abusiva com Mavi (Chay Suede) e o assédio de Molina (Rodrigo Lombardi) nos capítulos iniciais. Humana, Viola não é aquele tipo de mocinha que não tropeça, tanto que, ainda no começo da trama, traiu a melhor amiga, Luma (Agatha Moreira) com Rudá (Nicolas Prattes).

Certo é que se Gabz transformasse sua história numa poesia urbana, os versos teriam palavras como inspiração, complicação, vibração, consagração, oração... E também temperamento, fortalecimento, lamento, comprometimento, pertencimento, engajamento. Afinal, sua trajetória rima com superação e empoderamento!

Por que Gabz? Foi numerologia?

(gargalhadas) Não... A galera pergunta muito sobre isso. Falam que não é nome de atriz. Ele veio do hip hop. Eu o adotei no susto, logo na minha primeira batalha de rima, quando tive que escolher uma assinatura na hora. Não fazia a mínima ideia do que decidir. Como meus amigos já me chamavam de Gabz, acabei levando o apelido. O Ice Cube (rapper norte-americano) não deixou de ser Ice Cube quando virou ator. MC Cabelinho continua com o mesmo nome. Vale lembrar que Zendaya (atriz e cantora norte-americana) é um nome só, hein, galera (risos). Gabz é simples, mas carrega muitos significados para mim.

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Afinal, quem é Gabz?

Gabz é Gabrielly Martins Nunes no fim das contas. Nasci em Irajá, onde fui criada. Meus pais são batalhadores. Minha mãe é metalúrgica e meu pai já foi um milhão de coisas, de porteiro a taxista, além de ser um grande baixista. A gente já passou por muito perrengue financeiro, mas sempre nos mantivemos felizes e unidos. Também fui criada pela minha avó paterna (Joanna), uma mulher incrível que educou os três filhos sozinha. Ela os incentivou a tocar instrumento, e isso fez com que meu pai tivesse sobrevida de felicidade em meio às dificuldades. Tenho memórias muito fortes da infância, de momentos superdifíceis, mas a gente estava tocando violão com meu pai.

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Algum momento de crise mais forte?

Sim, quando meu pai perdeu o emprego. Ele fez a escolha de pegar o FGTS, saldar todas as dívidas, comprar um baixo e pagar os meses do curso de teatro que faltavam para eu fazer. Ficou completamente sem dinheiro. Isso me marcou muito porque a gente ia ter que dar um jeito de se virar, mas a prioridade dele eram essas coisas. Depois disso, teve muita dificuldade financeira. Foi minha vó que ajudou a gente. Quando consegui o meu primeiro papel pós-pandemia, ele ganhou um processo trabalhista. Foi então que minha família teve uma mudança total.

Você tem irmãos?

Sim, o Caio. Ele é músico, inclusive. Somos uma família de artistas. Minha mãe colocava a gente pra tocar violão quando acabava a luz, e isso deu em alguma coisa (risos). Quando eu sofria bullying na escola e falavam mal do meu cabelo, voltava para casa e meu irmão dizia que a única mulher linda como eu era a Beyoncé. Como eu ia me abalar com críticas?

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Você citou o bullying. Isso mexeu com sua autoestima?

Me abalou bastante durante a infância porque eu convivi em muitos espaços onde tinham poucas pessoas negras. Teve uma vez que a gente foi num bairro de classe média alta e, no momento que eu comecei a brincar, chegou uma menina e falou que meu cabelo era ruim. Meu pai disse que me viu encolhendo. Em um período eu mudei quem eu era. Eu era uma menina serelepe e, de uma hora para outra, fiquei querendo ser invisível. Isso me prejudicou muito. As pessoas não me apoiavam. Eu era a garota que aparecia na televisão, mas as pessoas falavam que eu não ia conseguir (me manter). Na época em que eu era modelo, um menino falou: “Você não vai conseguir. Modelo é Ana Hickmann, é Gisele Bündchen...”. Faziam de maldade mesmo. O racismo é cruel. São tantas pessoas querendo minar a gente... Mesmo tendo plena capacidade, a gente se trava e acaba perdendo muito tempo. Eu tinha medo. Não me sentia bonita. Quando eu conheci o hip hop e o slam, comecei a ter autoestima, passei a me achar bonita e inteligente. Por isso consegui chegar tão segura na televisão, ainda que seja um ambiente de muita exposição.

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Hoje você se vê poderosa?

Me sinto poderosíssima. Todos nós temos momento de vulnerabilidade, principalmente quando a gente se expõe muito. Esta novela é a maior exposição que eu já tive na minha vida, mas eu tô extremamente feliz e comprometida. Como gasto a maior parte da minha energia para trabalhar e melhorar, acaba que os momentos de insegurança ficam para trás. Quando sinto que o negócio vai começar a entornar, vou pra minha família, que é a minha base, e volto com força na peruca.

Você já tinha se imaginado protagonista da novela das nove?

Como sou um rosto novo para a televisão, as pessoas ficam apreensivas por não me conhecerem, ainda mais por estar na novela das nove, um ícone para o povo brasileiro. Mas eu entendo muito a necessidade de ter gente diferente nas tramas. Espero que o público tenha um olhar generoso para me conhecer. Também quero honrar toda essa expectativa que as pessoas têm.

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Como você lida com as críticas?

Vim de Irajá. Eu era a única menina negra da escola em todos os colégios em que estudei (ela foi bolsista em escola particular). Para me abalar com críticas, a pessoa tem que rebolar muito. A vida inteira, eu nadei contra a maré, com pessoas dizendo que era impossível eu realizar os meus sonhos. Agora que tô conseguindo, quem quiser criticar que critique. A minha avó me liga todo dia emocionada com meu trabalho na novela. Não tem como eu não dar valor para isso. No fim das contas, é para isso que eu tô fazendo. Claro que também quero que todo povo brasileiro se divirta e se emocione. Pena de quem não consegue se entregar e tem preconceitos. Críticas não me atravessam.

Como avalia o trabalho nesses primeiros 30 capítulos de “Mania de você” ?

É uma loucura. O pessoal já tá falando comigo na rua, já tá dando opinião. A proposta dessa novela é o jogo virar o tempo todo, e realmente é isso que acontece. O quarteto protagonista (Viola, Luma, Mavi e Rudá) vai errar e acertar o tempo todo. Com a mudança de fase, Viola voltou poderosa, com muito sangue nos olhos para ninguém tirar o que é dela.

Qual a importância de falar sobre assédio na ficção?

Sempre quis tratar o tema com delicadeza porque na vida real esses assédios são maquiados. Acho que grande parte das mulheres já passou por isso. Muitos acham que assédio é só quando uma pessoa agarra a outra, mas existem coisas mais sutis que vão minando e a gente. E não conseguimos reagir. Na minha adolescência, quando fui conhecendo meninas iguais a mim, me empoderei. Quando eu encontrei essas mulheres, tive força. Eu também tenho muitas mulheres fortes e poderosas dentro da minha família. Lá pelos meus 17 anos, percebi que realmente o meu corpo é meu.

Viola também mantém uma relação tóxica com Mavi, que a persegue...

Mavi é aquele cara que te ama muito, mas do nada grita com você. É aquele cara que te dá o mundo, depois joga isso na cara. É muito comum. Eu já passei por isso. Acho muito delicado dar soluções para relacionamentos abusivos porque cada um sabe onde o calo aperta. A gente não pode culpar as mulheres por continuarem nessa situação. A independência é algo muito importante para a gente ser livre. Quando comecei a olhar pra minha carreira como uma forma de descobrir quem eu sou, as coisas mudaram. Perdi muito tempo querendo ser escolhida pelos caras e, de repente, pensei “não é para eles me escolherem. É para eu escolher quem eu quero”. É um processo de construção. Cabe a nós, enquanto mulheres, perceber que o relacionamento é uma parte da nossa vida e não a meta. Uma hora vai aparecer uma pessoa incrível com quem compartilhar os sonhos.

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Tem alguém com quem você compartilha seus sonhos atualmente?

(gargalhada) Isso é uma coisa que as pessoas vão ter que descobrir por elas mesmas. Agora só penso em trabalho.

Seu último relacionamento foi com o skatista Gui Silva então?

A gente terminou há um ano. Foi um relacionamento supersaudável, diga-se de passagem. Eu não tenho mais essa ansiedade (de ter uma boa relação). O namoro foi muito importante para eu entender como é importante ficar sozinha, já que experimentei um relacionamento bacana.

Há cinco anos você se declarou bissexual. Recebeu apoio depois disso?

Só recebi apoio, felizmente. Sempre fui muito aberta em relação a isso até porque eu acho muito importante mostrar que a bissexualidade existe. Minha família também lida de forma muito tranquila, e isso é o que importa pra mim.

Você já talaricou alguém (ficou com o namorado da amiga) como a Viola?

Jamais! (risos). Tive que estudar muito para fazer a Viola porque não talariquei ninguém, não faria isso com minhas amigas. Diga não a talaricagem, hein, gente! Nisso eu não fecho com a Viola não (risos).

Como está sua carreira de cantora?

Dei uma pausa legal por causa da novela. Uma oportunidade dessas exige uma dedicação total. Estou gravando todos os dias. Tenho um projeto já na manga para depois de “Mania de você”. A música sempre fez parte da minha vida e é o que me alimenta.

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Gabz usou:
Look preto

Blazer e cinto: Acervo; Meia: Calzedônia; Argolas, bracelete e anéis: Ylla e Merinda; Ateliê Pepita; Sapato: Prada
Look dourado
Vestido e xale: Trapus; Brinco: Ylla; Earcuff: Merinda; Anel: Monte Carlo; Calçado: Sonho dos pés

Onde encontrar:
Acervo @aaaacervo
Ateliê Pepita @atelierpepita
Canzedônia @calzedoniabrasil
Merinda @merindaoficial
Monte Carlo @montecarlojoias
Prada @prada
Sonhos dos pés @sonhodospesoficial
Trapus; @trapus__
Ylla @yllaconcept

Créditos:
Texto: Thomaz Rocha
Edição: Camilla Mota
Fotos: Maju Magalhães @maga.maju
Beleza: Viviane Oliveira @crisviviannee
Styling: Aléxia Azambuja @alexia_azambuja
Assistente de Styling: Renata Rodrigues @renatarodrigue.s
Produção de moda: Renata Rodrigues e Lídia Albuquerque @lidia_ac
Assistente de produção de moda: Nicole Vianna @nicoleviannaa

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